Para que servem os NFTs: um olhar sobre as suas aplicações
No nosso artigo "O que são os NFTs", explicamos que os Non Fungible Tokens devem ser entendidos como ferramentas para identificar de forma única, segura e fiável um bem. Mas qual é a utilidade de um NFT?
Criados com tecnologia blockchain, os NFT são apresentados como uma espécie de certificado digital de autenticidade e rastreabilidade. Nas palavras de Pilar Troncoso, professora do programa de especialização em blockchain e inovação digital do Instituto de Estudios Bursátiles, "qualquer lugar onde seja necessário um elemento digital que certifique a propriedade será um nicho onde os NFTs demonstrarão todo o seu potencial".
Parece que até agora temos visto projetos que têm dado muito que falar, mas com uma utilidade limitada, ou que levantaram algumas suspeitas. Há quem questione: De que servem os CryptoPunks ou Bored Apes para além de contarem com uma obra de arte digital como foto de perfil? O que, por conseguinte, leva a questionar para que servem os NFTs.
A chave é que os NFT devem ser vistos pela sua capacidade de representar qualquer bem digital. E devido a essa capacidade, são úteis em qualquer setor da economia, inclusive já estão a ser úteis na arte, jogos, moda, cinema, música, Estado e banca.
"Enquanto todos falam da bolha NFT, algo está a fermentar noutros setores, tais como no da bilheteira, diplomas universitários, mercado em segunda mão, luxo, finanças e outros", afirma Pilar Troncoso.
De facto, a capitalização do mercado dos NFT está estimada em mais de 35 mil milhões de dólares até 2022 e mais de 80 mil milhões de dólares até 2025, segundo um relatório do banco de investimento Jefferies. Os dados e as previsões sugerem que vale a pena refletir sobre o seu potencial. Por isso, aqui aprofundamos diferentes casos de utilização dos NFTs.
NFTs e rastreabilidade nos processos de produção e fornecimento
Os NFTs permitem seguir de forma inequívoca cada elemento e parte dele dentro de uma blockchain. A tokenização da blockchain ajuda à rastreabilidade de uma maneira única.
A empresa argentina Carnes Validadas, tem vindo a usufruir das vantagens dos NFT desde 2019. Com os tokens, identifica inequivocamente os seus animais e proporciona rastreabilidade ao processo de produção de carne, oferecendo aos utilizadores um currículo completo do produto que vai ser consumido, desde a vaca que pariu o bezerro até ao local onde este foi embalado a vácuo. Toda esta informação é acessível através de um código QR.
Além disso, quando atribui este certificado digital aos seus animais, desta rastreabilidade garantida, as características de cada animal (peso, alimentação, estado de saúde, etc.) são registadas no NFT. Isto cria outra vantagem diferencial nas transações destes ativos ou quando os apresenta como garantia ao solicitar um empréstimo.
Outro caso de tokenização para a rastreabilidade pode ser encontrado em Maersk. Com a plataforma TradeLens, transforma cada contentor marítimo num NFT único, identificável com uma carga específica e verificável. O desenvolvimento, que se tornou conhecido pela primeira vez em 2019, tem vindo a expandir o seu alcance a diferentes portos em todo o mundo, demonstrando as suas capacidades.
Os NFTs permitem seguir de forma inequívoca cada elemento dentro de uma blockchain
Na Izertis temos atualmente em curso projetos baseados em blockchain no setor da saúde que combinam a aplicação de NFTs, identidade digital e credenciais verificáveis para a rastreabilidade de amostras biológicas.
Os NFTs nas finanças
A utilização das NFT como garantia para a aquisição de um empréstimo é um dos casos de utilização possibilitada pelo desenvolvimento de plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), um sistema baseado em relações peer-to-peer. O ecossistema DeFi inclui uma vasta rede de protocolos integrados e instrumentos financeiros, desde plataformas de empréstimo e crédito a stablecoins (como Tether ou DAI) até bitcoins tokenizadas.
Os atributos de certeza, transparência, segurança e imutabilidade graças à tecnologia blockchain significam que os NFTs já são fundamentais no setor financeiro. E as finanças descentralizadas (DeFi) passaram da teoria à prática.
A possibilidade de tokenizar ações permite-nos visualizar cripto-bolsas sem necessidade de agentes centralizados ou market makers e inclusive levantar obrigações digitais emitidas diretamente na Blockchain.
NFTs para as artes, cultura e entretenimento
Os NFT estão a ganhar popularidade devido à sua aplicação no mundo das artes. A chave para tal reside na sua qualidade de certificador de autenticidade de peças únicas.
Ao contrário do dinheiro ou das criptomoedas, que são substituíveis, cada NFT é único. Uma nota de 10 euros tem o mesmo valor na nossa carteira que tem na carteira do nosso vizinho. No entanto, a pintura "Os Girassóis" que paira em muitas das nossas salas de estar e a que está exposta no museu do pintor em Amesterdão não são intercambiáveis. É aí que reside a essência do conceito de NFT.
Com os NFT, surgiu uma nova compreensão da propriedade artística. Pela sua natureza, as obras digitais podem ser copiadas e replicadas. Os NFTs não impedem reproduções ou cópias, mas servem para autenticar a propriedade e a autoria de uma determinada obra.
Os NFT oferecem oportunidades de rendimento para os artistas e de investimento para os particulares e empresas. Do mesmo modo, na indústria da música e de conteúdos, os NFT expandiram-se. Estão a forjar novas formas de interação entre criadores e consumidores ou fãs que se tornam visíveis nas vendas, comunicação ou promoção.
No mundo editorial, os autores podem vender as suas obras diretamente na Internet. Além disso, graças a esta tecnologia, permite a rastreabilidade do uso feito da obra e abre um vasto leque de possibilidades para a fidelização dos leitores. Pensemos, por exemplo, na tokenização de um livro assinado pelo autor, que tem um valor extra em comparação com um exemplar não assinado.
No campo do desporto, os NFT tornaram-se populares entre as equipas e celebridades de futebol, basquetebol e de outros desportos. Enquanto os fãs sonhavam em tempos com uma bola ou camisola autografada do seu jogador favorito, hoje em dia os tokens dão acesso a conteúdos, eventos exclusivos e outras formas de interação.
A NBA criou um novo modelo de negócio com a ideia de sortear grandes peças da história do basquetebol norte-americano em cromos de autocolantes virtuais com um preço entre 9 e 299 dólares. La Liga abriu um novo fluxo de receitas para os clubes ao assinar um acordo com a Sorare, uma empresa participada por futebolistas como Gerard Piqué, Antoine Griezmann e Rio Ferdinand, para distribuir os NFTs dos jogadores.
E, claro, o entretenimento ganha outra nova forma de interagir para o intercambio e a venda dos seus NFTs.
Possibilidades de monetização em videojogos, esports e gaming graças aos NFTs
Graças aos NFTs, os objetos virtuais nos videojogos são irreproduzíveis e têm um proprietário. Quantas vezes comprámos features para o nosso videojogo preferido e depois cansámo-nos delas? O que fazemos com esses bens? Com os NFT, os utilizadores podem monetizar os seus "investimentos" e a indústria tem outro importante fluxo de receitas.
Venda de bilhetes e criação de NFTs colecionáveis
A utilização de NFTs como bilhetes para aceder a eventos de qualquer tipo (teatro, espetáculos, concertos, etc.) serve para combater a fraude, falsificação ou abuso nas revendas. Além disso, estes tokens podem tornar-se em colecionáveis.
Angariação de fundos para fins de caridade, humanitários e políticos
Os NFTs são utilizados na filantropia para angariar donativos. No final de 2021, e como parte do seu 75º aniversário, a UNICEF lançou uma coleção de NFTs. Colocou mais de 1.000 peças à venda através da blockchain Ethereum para financiar vários projetos.
A eGoGames, a Global Gift Foundation e a Shokworks criaram o eGoClub, uma comunidade filantrópica de NFTs. Alejandro Sáez (fundador da eGoGames), María Bravo (da Global Gift Foundation) e Alejandro Laplana (da Shokworks) apresentaram em Nova Iorque a nova comunidade, que visa "ajudar milhares de pessoas em todo o mundo". O EGoClub nasceu em março de 2022 com uma primeira coleção de 10.000 NFTs chamados eGos construídos sobre blockchain Ethereum e tokens ERC-721.
Por volta da mesma altura, Shrina Kurani, uma democrata candidata ao Congresso no 41º distrito da Califórnia, apareceu num painel para anunciar o lançamento da sua coleção de NFTs. Conhecida como "Kurani for Congress", explicou que se trata de uma coleção de 230 NFTs concebida para sensibilizar a sua campanha, ao mesmo tempo que destaca soluções amigas do ambiente no espaço Web3.
Por sua vez, o governo ucraniano anunciou, também em março de 2022, a sua intenção de lançar uma coleção de NFTs com obras de arte visual relacionadas com a guerra com a Rússia. Os NFTs estão também a ajudar organizações sem fins lucrativos, tais como a Save the Children, a angariar fundos para ajudar as famílias afetadas pela guerra.
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