A Espanha vai ser uma referência internacional no controlo de doses de radiação médica
O Instituto Nacional de Gestão Sanitária (INGESA), através do Centro Nacional de Dosimetria (CND), está a trabalhar num projeto que irá transformar os cuidados de saúde espanhóis numa referência internacional da recolha, gestão e controlo de doses de radiação médica. Trata-se da criação de um Banco Nacional de Dosis a Pacientes (BNDP) para todo o Sistema Nacional de Saúde. Este BNDP tornará possível compilar, unificar e monitorizar toda a informação referente a intervenções radiológicas.
O projeto permitirá criar um registo clínico que contenha todos os dados relevantes sobre a exposição à radiação recebida em exames médicos pelos pacientes no Sistema Nacional de Saúde. Esta informação estará disponível tanto para os profissionais de saúde como para os pacientes, que poderão consultar o seu registo histórico. Outra grande vantagem é que ajudará a estabelecer, comparar e aplicar os níveis de referência para diferentes exames médicos, equipamentos e territórios, sendo uma ferramenta fundamental para otimizar as doses de radiação recebidas pelos pacientes. Atualmente, não existe um controlo informatizado geral do número e quantidade de doses recebidas pelos pacientes.
O BNDP será uma plataforma digital que utilizará Machine Learning e Business Intelligence para analisar os dados das sessões de radiação que cada indivíduo recebe ao longo da sua vida. Estas ferramentas facilitarão o trabalho dos profissionais na sua atividade diária. Além disso, o repositório anonimizado de dados servirá tanto aos profissionais de saúde como à comunidade científica internacional para descobrir a geração de padrões ocultos e associações complexas, detetar a sobre-exposição à radiação, e relacioná-la com problemas derivados, de uma forma inteligente.
Sob o quadro da diretiva europeia EURATOM 2013/59, a criação deste Banco de Dosis a Pacientes para todo o Sistema Nacional de Saúde, que se encontra atualmente em fase de desenho, "teria uma aplicabilidade sem precedentes, uma vez que não existe um sistema no domínio da saúde para o armazenamento e análise de informação radiológica unificada que abranja, de uma forma geral, as amostras de um país", salientou Juan Catret, coordenador do projeto.
O Banco Nacional de Dosis a Pacientes está a ser definido e desenhado pela empresa multinacional Izertis, vencedora do concurso, conhecida por liderar iniciativas tecnológicas para organizações como o Banco Mundial ou a Agência Europeia de Defesa. Junto partilhará a implementação deste projeto a sua parceira GE Healthcare, uma empresa com vasta experiência em projetos de análise de dados no ambiente da saúde a nível internacional, e especialmente em sistemas de gestão e controlo de doses.
A utilização generalizada de novas modalidades de diagnóstico por imagem em radiologia e medicina nuclear (80% dos diagnósticos clínicos em Espanha baseiam-se em imagens), a melhoria das técnicas de radioterapia e radiologia interventiva, assim como o crescente acesso da população a estes serviços de diagnóstico e tratamento, aumentaram a exposição à radiação ionizante ao ponto de mais de 90% das doses recebidas de fontes artificiais serem provenientes de usos médicos. Entre elas, as mais frequentes seriam as modalidades de TAC, Mamografia, Radiologia de Intervenção e Radiologia Convencional, e Medicina Nuclear, entre outras.
Desafio interterritorial
"O desafio da mobilidade dos cidadãos torna necessário a implementação de um sistema que facilite a extensão territorial destas funcionalidades a todo o Sistema Nacional de Saúde, e permita aos profissionais dispor da informação útil quando as necessidades de cuidados de saúde ocorrem fora da Comunidade Autónoma em que esta informação foi gerada", afirma María Gracia, Radiofísica Hospitalar responsável da área de Física Médica do projeto.