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Alberto López Nestar, Diretor Geral Adjunto da Iberpay: “Os nossos esforços centram-se em tentar aproveitar todo o potencial do Request To Pay”

Sobre Alberto Lopez Nestar

Alberto López Nestar é Diretor Geral Adjunto na Iberpay, liderando as áreas de Tecnologia, Projetos e Inovação. Anteriormente, trabalhou na Accenture e toda a sua experiência profissional está relacionada com o setor financeiro e a tecnologia. Desde 2017, ano em que ingressou na Iberpay, empresa que gere o Sistema Nacional de Pagamentos em Espanha, tem levado a cabo projetos chave e de grande sucesso para o setor financeiro, tais como a implementação de infraestruturas setoriais para o processamento de transferências instantâneas ou iniciativas de inovação setorial, tais como Smart Payments e Smart Money.

Alberto Nestar é engenheiro técnico em Gestão Informática, engenheiro em Organização Industrial, possui um Diploma em Estudos Empresariais e completou recentemente um PDD (Programa de Desarrolllo Directivo) na Escola de Negócios IESE. 

Qual é a missão da Iberpay dentro do sistema financeiro espanhol?

A principal missão da Iberpay é a gestão do Sistema Nacional de Pagamentos, uma infraestrutura interbancárioa crítica de pagamentos especializada no processamento e liquidação de instrumentos de pagamento baseados na conta corrente bancária: transferências, transferências instantâneas, débitos, cheques e letras de câmbio.

A Iberpay conecta bancos, empresas e cidadãos para processar os seus pagamentos, cumprindo assim uma missão crítica e essencial na sociedade, ao facilitar a circulação de fundos entre as contas correntes de diferentes bancos, promovendo e sustentando a atividade económica do país.

A Iberpay conecta bancos, empresas e cidadãos para processar os seus pagamentos promovendo e sustentando a atividade económica do país

A Iberpay também desempenha um papel fundamental na distribuição de dinheiro a entidades financeiras espanholas como gestor do Sistema de Depósitos Auxiliares (SDA) e fornece ao setor outros serviços digitais de alto valor acrescentado, tais como transferência de contas (portabilidade automática de contas correntes entre entidades financeiras), titularidade de contas (verificação da titularidade da conta de um cliente noutra entidade financeira) e prevenção da fraude.

Quais são os principais desafios tecnológicos que enfrenta no seu dia a dia?

Vivemos atualmente num ambiente volátil, complexo e incerto, com uma rápida evolução tecnológica, que requer grande agilidade e versatilidade para se adaptar à mudança. A Iberpay é uma empresa principalmente tecnológica, na vanguarda da inovação em pagamentos, com uma cultura de adaptação à mudança profundamente enraizada, o que nos torna muito ágeis e eficazes em ambientes com um elevado nível de incerteza. Não obstante, como qualquer empresa tecnológica, a Iberpay enfrenta uma série de desafios tecnológicos:

  • A capacidade para atrair e reter o talento informático.
  • Manter-se a par das últimas tendências tecnológicas, como a Inteligência Artificial, análise de dados e Blockchain.
  • A crescente importância da cloud, que está a mudar a forma como desenvolvemos e gerimos a infraestrutura tecnológica.
  • A importância da cibersegurança e a gestão adequada da privacidade dos dados.
  • A manutenção e gestão de numerosos sistemas, com diferentes tecnologias, que requerem uma equipa multidisciplinar muito especializada.

Embora estes possam parecer ser desafios muito complexos, sentimo-nos plenamente confiantes graças ao empenho de toda a equipa e aos progressos significativos que estamos a alcançar nestas áreas.

Que alterações poderemos observar nos métodos de pagamento dos próximos anos? Quais são as maiores tendências atuais e as mais suscetíveis de progredir no futuro?

O mundo dos pagamentos está em plena expansão. Os pagamentos entre contas deixaram de fazer parte do BAU (Business As Usual) dos bancos para se tornarem um fator de diferenciação com que competir, oferecendo aos seus clientes serviços de valor acrescentado.

Desde 2017, as entidades financeiras oferecem aos seus clientes transferências instantâneas, que são pagamentos entre contas que funcionam 24x7 e em tempo real, ou seja, os fundos são creditados na conta do beneficiário de forma instantânea. Estes pagamentos ‘push’ em tempo real estão a ter muito sucesso em Espanha, uma vez que o Bizum utiliza as transferências instantâneas para efetuar pagamentos entre as contas dos seus utilizadores. Até à data, quase 50% das transferências processadas pela Iberpay são transferências instantâneas.

Por outro lado, o Request To Pay ou pedido de pagamento em tempo real está em pleno desenvolvimento e implementação em Espanha e é pioneiro na Europa. Este pagamento "pull", juntamente com a transferência instantânea, abre inúmeras oportunidades para o setor financeiro no domínio dos pagamentos e pode oferecer uma vasta gama de serviços de valor acrescentado, como a cobrança em tempo real de faturas não pagas, o pagamento de faturas eletrónicas entre empresas ou a substituição dos clássicos débitos diretos.

Atualmente, existem também outras tendências muito relevantes como o Open Banking e o Buy Now Pay Later.

Em termos de tendências futuras que se desenvolverão nos próximos anos, destacaría os pagamentos instantâneos programáveis e o dinheiro digital tokenizado, com aplicação em casos de utilização desenvolvidos em redes DLT e blockchain no domínio da Internet of Things (IoT), da Indústria 4.0, das smart cities, do metaverso e da Web 3.0.

Que iniciativas está a levar a cabo a Iberpay no âmbito destas tendências existentes nos métodos de pagamento? 

Em 2017, após o lançamento das transferências instantâneas, incorporando todo o setor financeiro espanhol e alguns bancos europeus, os nossos esforços centram-se na tentativa de implementar todo o potencial do Request To Pay. Estamos a trabalhar em conjunto com as principais entidades financeiras no desenvolvimento e implementação de novos casos de utilização baseados nestes pedidos de pagamento online que permitam às entidades oferecer aos seus clientes novos serviços de valor acrescentado.

Por outro lado, desde 2018 que estamos a trabalhar num grupo de trabalho em conjunto com os responsáveis das entidades nas áreas de pagamentos, tecnologia e inovação para desenvolver e promover as iniciativas setoriais Smart Payments (pagamentos instantâneos programáveis) e Smart Money (dinheiro digital tokenizado).

Em 2020, a Iberpay e as 5 maiores entidades da altura (Caixabank, Santander, BBVA, Sabadell e Bankia) concluíram com sucesso uma Prova de Conceito em que se verificou a viabilidade de executar transferências instantâneas programáveis a partir de redes DLT, quando determinadas condições pré-estabelecidas são cumpridas, através da execução de Smart Contracts e da sua ligação ao Sistema Nacional de Pagamentos.

A Iberpay participa atualmente como colaboradora num projeto liderado pela Allfunds, submetido e aprovado no Sandbox regulatório espanhol, que consiste em testar, em ambiente de produção controlado, um Sistema Multilateral de Negociação para a negociação de fundos de investimento tokenizados. A Iberpay fornece a solução Smart Payments para facilitar a liquidação das transações com participações de fundos segundo o modelo Delivery versus Payment, eliminando assim qualquer risco de contrapartida e agilizando o processo. 

Os nossos esforços centram-se na tentativa de implementar todo o potencial do Request To Pay

A iniciativa Smart Money surgiu há vários anos com o objetivo de avaliar e testar novas alternativas tecnológicas às formas tradicionais de dinheiro e pagamentos, analisando a sua viabilidade técnica e a sua capacidade de satisfazer as necessidades dos utilizadores. Durante estes anos, avaliámos múltiplos modelos possíveis: grossista ou retalhista, público ou privado, com acesso universal ou restrito, com tecnologia centralizada ou descentralizada, etc.

Entre outubro de 2020 e junho de 2021, as 17 principais entidades financeiras e a Iberpay realizaram uma nova Prova de Conceito que procuram validar novas funcionalidades para abordar a distribuição setorial na eventualidade de o Eurosistema emitir um euro digital, incentivar parcerias público-privadas, promover a inovação nos pagamentos e a digitalização da economia, assim como avaliar o seu potencial impacto no setor financeiro, em conformidade com as recomendações e preferências do próprio Eurosistema.

O projeto centrou-se no teste da distribuição de uma CBDC (Central Bank Digital Currency) através da Red-i (rede DLT interbancária) em nome das entidades financeiras aos seus clientes, num ambiente de teste gerido pela Iberpay. No âmbito deste projecto, foram testados dois modelos de moeda digital, baseados em tokens e baseados em registo contabilístico, para além da simulação da emissão desta moeda digital pela autoridade monetária.

Por último, o Banco de España lançou recentemente um programa experimental de utilização de tokens digitais para a liquidação de operações de pagamento e de valores grossistas. A Iberpay apresentou o seu ativo setorial Smart Money, com o objetivo de emitir, distribuir e resgatar tokens wCBDC (wholesale CBDC) em nome do Banco de España, para liquidar transações com ativos financeiros tokenizados em modo Delivery versus Payment. Se a proposta apresentada pela Iberpay for escolhida, trabalharemos ao longo deste ano no desenho, desenvolvimento e teste desta experiência, finalizando com a elaboração de um relatório com as conclusões obtidas.

O que é que o uso das tecnologias DLT e blockchain oferecem ao setor financeiro e ao pagamento em particular?

A tecnologia DLT permite descentralizar as operações ou a informação com que as infraestruturas financeiras operam, bem como melhorar a sua resiliência e rastreabilidade. Também facilita a implementação de soluções que permitem o agendamento de pagamentos e outros casos de utilização através de Smart Contracts.

O agendamento automático de pagamentos permite que estes pagamentos não tenham de ser iniciados por nenhum dos intervenientes, podendo ser programadas previamente por código de software e executados automaticamente quando se verificam determinadas condições previamente acordadas pelos próprios intervenientes. Estas condições objetivas são programadas num Smart Contract que, ao verificar o seu cumprimento, permite que o pagamento acordado seja iniciado sem mais intervenção das partes e informa todos os participantes na rede DLT que o pagamento foi executado e que o Smart Contract pode continuar a processar as próximas linhas de código de software programadas.

Além disso, no domínio da DLT, já existem muitas iniciativas para tokenizar de todos os tipos de ativos (ativos financeiros, ativos imobiliários, etc.), que pretendem melhorar o acesso aos mercados de negociação e torna-los mais rápidos, mais baratos e mais seguros. Estes ativos tokenizados podem ser liquidados em plataformas DLT através de um procedimento de Delivery versus Payment com uma troca atómica de tokens (ativos tokenizados e moeda digital tokenizada), num horário de 24x7, eliminando o risco de contrapartida. Este procedimento de liquidação, possível nas redes DLT, traz segurança, garantias e eficácia às novas plataformas de negociação de ativos financeiros (obrigações, ações, fundos de investimento, etc.).

Qual a contribuição do euro digital neste novo contexto em que já nos encontramos envolvidos?

Atualmente, a moeda do banco central só está disponível para o público sob a forma de numerário. Consequentemente, num mundo cada vez mais digitalizado, existe o risco de a moeda do banco central ser gradualmente reduzida a uma utilização marginal como meio de pagamento. Um dos objetivos do Eurosistema consiste em preservar o papel do dinheiro público como âncora monetária do sistema de pagamentos e, em particular, um euro digital ofereceria um meio de pagamento eletrónico emitido pelo banco central, acessível a todos os cidadãos da zona euro. Este euro digital complementaria o numerário, não o substituiria, e contribuiria para preservar o papel da moeda do banco central como força estabilizadora do sistema de pagamentos.

Quanto às vantagens que poderá trazer em comparação com os atuais meios de pagamento, ainda não se sabe, uma vez que o Eurosistema ainda se encontra na fase de investigação e ainda não concluiu a definição do desenho definitivo do futuro euro digital. No entanto, de acordo com o Eurosistema, um euro digital criaria sinergias com as soluções de pagamento privadas e contribuiria para um sistema de pagamentos europeu mais inovador, competitivo e resiliente, servindo de unificador para as economias digitais da Europa.