Urko Larrañaga Piedra Head of Blockchain

Libra, a Blockchain do Facebook. De que estamos a falar?

Depois do Facebook anunciar que estava a trabalhar na sua própria Blockchain, não pararam de publicar-se artigos a este respeito, onde cada um contribui com as suas pinceladas e analisa esta iniciativa a partir da sua própria perspetiva. Também já temos os primeiros utilizadores a experimentar com rede de testes. No entanto, o que devemos esperar desta iniciativa? O que está por detrás da Libra?

Nas linhas que se seguem apresento algumas reflexões pessoais e uma avaliação pausada a este respeito. Durante as últimas semanas tentei fugir de análises e debates, madurando a minha própria opinião longe de todo o ruído gerado após o anúncio desta iniciativa, fruto do qual temos o seguinte post.

O que é apresentado a seguir, não é apenas uma análise tecnológica, mas o objetivo do artigo é partilhar a minha visão em relação à iniciativa em si e ao que ela significa para todo o ecossistema.

Projeto Libra

Em primeiro lugar, gostaria de salientar a minha opinião no que se refere ao potencial que este projeto pode alcançar sob a perspetiva de negócio. Afinal de contas, como eu o entendo, o que se procura com este projeto é a criação de uma nova alternativa à Bitcoin, mas aplicando tudo o que foi aprendido durante a última década e juntando o apoio de várias instituições internacionais. Na linha da Bitcoin, que foi definida por Satoshi Nakamoto como um sistema para transferências e pagamentos através de dinheiro eletrónico, a Blockchain Libra define-se como uma infraestrutura financeira que apoiará uma nova criptomoeda que funcionará como meio de pagamento divergindo, evidentemente, da Bitcoin.

Foram muitos os que advertiram e, hoje em dia continuam a salientar, que o de Satoshi foi um Órdago para o sistema financeiro atual, com o qual esta iniciativa tem grande semelhança. No entanto, como mencionávamos anteriormente, desta vez são propostas uma série de modificações e alternativas para Bitcoin, entra as quais destacaria as seguintes:

  • Adoção: neste momento este projeto está a ser apoiado por uma Associação formada por um conjunto de empresas que influenciam uma grande parte da população mundial, superando em muito os atuais utilizadores da Bitcoin. Nesta mesma linha, de salientar uma das frases em que a Libra informa que o seu objetivo é facilitar a inclusão da população sem banco num sistema financeiro global mais inclusivo. Por outro lado, mencionar também que um dos principais eixos de desenvolvimento do projeto é uma aplicação que facilite a usabilidade e a iteração com a rede.
  • Volatilidade: ao contrário da maioria das criptomoedas que hoje existem, o objetivo é construir um fundo que apoie esta criptomoeda, seguindo a prática das "stablecoins". Desta forma, o que se pretende é conseguir que esta moeda alcance um valor estável.

No entanto, nem tudo é bom, já que ainda não está claro como o Facebook e a sua empresa pretendem regulamentar as suas criptomoedas ou como pretendem solucionar o desafio da identificação dos utilizadores que operem na sua rede.

Impulso para a tecnologia

Independentemente do que ocorra com a Libra, isto é, independentemente da sua adoção triunfar o não, de que consiga superar o desafio da regulamentação e identificação, etc. não se pode negar que o mundo das criptomoedas e a tecnologia da cadeia de blocos vieram mais do que nunca para estar na boca do mainstream, o que é uma ótima notícia. Afinal de contas, não podemos ignorar que um dos principais problemas da cadeia de blocos é a sua falta de aplicação.

Blockchain implica uma revolução na forma de fazer as coisas, permite construir um novo modelo relacional. No entanto, a sociedade não acaba de interiorizar a mudança de paradigma proveniente da sua aplicação, o qual é imprescindível para poder promover esta tecnologia. Apesar do poder transformador que a aplicação da cadeia de blocos possui, como temos mencionado repetidamente em artigos anteriores, a sua aplicação tem que ser concretizada.

Estamos perante uma mudança cultural que não se alcança de um dia para o outro, mas é fruto de um gota a gota constante e incessante de evangelização. Na minha opinião, o anúncio da Libra, equivale a umas quantas gotas que ajudarão a que instituições, organismos e indivíduos investiguem e apostem mais nesta tecnologia.

A Libra Blockchain

Nesta última seção apresentam-se uma série de pinceladas que têm um foco mais técnico. A partir de uma leitura rápida do documento técnico onde se específica o projeto, verifica-se que pelo menos constam todos os componentes e fundamentos deste tipo de redes. Desde a modelagem e autenticação de dados e o seu armazenamento, até como se aborda a execução das transações, especificação do consenso e gestão da própria rede, são seções do documento técnico.

No entanto, existem elementos que carecem de detalhe. Ainda que mencionem que o objetivo é que a integração de novos membros na rede seja aberta, não se identificou como se apresenta a administração do sistema. Além disso, na especificação do algoritmo de consenso, apesar de que se têm bem presentes as propriedades que se têm que cumprir nos sistemas distribuídos, não há uma formalização do próprio algoritmo.

Conclusão

Apesar de todas as críticas, deficiências e preconceitos a que a Libra está atualmente sujeita e se sujeitará no futuro, na minha opinião, é uma boa noticia. Isto mostra que apostar no Blockchain não é apenas uma moda mas é a tecnologia a que se terá que agarrar se quiser transformar e despontar. Por outro lado, creio que o objetivo deste projeto transcende a aplicação de uma tecnologia, mas aproveita-se bem das suas virtudes para alcançar outros objetivos, que é, na nossa opinião, a linha a seguir. E é aí onde podem contar com a Izertis.

Por último, terminar o artigo mencionando que nos meses seguintes acompanharemos com atenção tudo o que ocorra à volta desta iniciativa e a opinião de outros, com o objetivo de aprofundar este tema em novos posts. Não apenas na parte de negócios, mas o objetivo é apresentar uma análise técnica mais exaustiva a esse respeito.